Nuno Côrte-Real O Rapaz de Bronze
Libreto de José Maria Vieira Mendes a partir do conto de Sophia de Mello Breyner Andresen
Encomenda conjunta da Casa da Música e do Teatro Nacional de São Carlos, a ópera de câmara O Rapaz de Bronze foi estreada em setembro de 2007, com libreto de José Maria Vieira Mendes, a partir do conto homónimo de Sophia. A música de Nuno Côrte-Real procura um sentido narrativo, no qual a relação dialética entre consonância e dissonância tende a privilegiar a primeira, enquanto a segunda toma uma função expressiva ou de caracterização dramática. Uma música unicamente dissonante seria como um mundo a preto e branco. Deste modo, assumindo uma relação aberta com o passado, a sua música cria um feixe de contaminações que são assimiladas e incorporadas no seu estilo, revelando uma atitude perante as inovações técnicas e estilísticas, encaradas como alargamento de possibilidades expressivas, e não como liquidação de valores declarados prescritos. Sobressai daqui uma conceção do modernismo como abertura para o múltiplo, em que vários estilos diferentes podem coexistir, legitimados unicamente pela coerência e pela intenção expressiva da obra. Estes aspectos são bem evidentes na ópera O Rapaz de Bronze. Partindo de uma total submissão ao texto, o compositor serve-se de várias técnicas não com uma função estética, mas como forma de caracterização dramática e psicológica. A música funciona, assim, não só como reforço da palavra, uma espécie de ressonância do texto, como procura exprimir além da palavra. Elementos musicais recorrentes, sejam tímbricos, melódicos, rítmicos ou harmónicos, que aparecem associados aos personagens principais, asseguram, além duma engenhosa caracterização, a unidade dramática e formal da peça.